sexta-feira, 20 de maio de 2011

BIOGRAFIA DE CLÁUDIO MANUEL DA COSTA: NOVA VERSÃO PARA VELHOS ERROS

Escrita pela professora de História da USP, Laura de Mello e Souza, a biografia Cláudio Manuel da Costa, da coleção Perfis Brasileiros ( Companhia das Letras, 248 pág.) é fruto de uma intensa pesquisa em fontes primárias, constituindo uma obra de referência indispensável sobre o poeta inconfidente. Contém, no entanto, um erro imperdoável: reconhecendo a existência de duas facções de estudiosos sobre a morte do poeta, que defendem assassinato ou suicídio, conclui por esta última corrente, justamente a errada. Assim, publicando em 2011, ignora descobertas de mais de dez anos antes, e a identificação do legista "Paracatu", publicada desde 2001 em jornais como o "Diário Popular", o "Estado de Minas", "Jornal da Tarde" e revistas como a "Vértice" de Portugal, "Superinteressante" ou a "Revista da Academia Mineira de Letras", que aliás não constam de sua vasta bibliografia, que contempla no entanto, os equivocos de Kenneth Maxwell, João Pinto Furtado ou Roberto Pompeu de Toledo. Sem citar nomes, a autora acaba se filiando a velhas teses como as de Eduardo Frieiro ou José Crux Rodrigues Vieira ("Se existiu, quem era o "Paracatu" ?), que tratam a importante personagem histórica cujo depoimento é essencial á desmontagem a bicentenària farsa oficial do suicìdio, como mera "lenda"... Isso, se era tolerável naquele 1993 em que Rodrigues Vieira escrevia, é totalmente inadmissível neste 2011 de Mello e Souza... A professora compõe assim a mais nova versão para velhos erros.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

BIOGRAFIA DE CLÁUDIO MANOEL DA COSTA

Acaba de sair, na coleção Perfis Brasileiros da Companhia das Letras, uma biografia de Cláudio, escrita pela Profª Laura de Mello e Souza. Vou ler e depois comento.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

23 de MAIO...

... não é só o nome de uma importante avenida de São Paulo, que evoca a Revolução Constitucionalista de 1932 e o MMDC. A data assinala a prisão, em Vila Rica - MG, do inconfidente Dr. Tomás Antônio Gonzaga, o poeta que assinava suas liras com o pseudônimo árcade de Dirceu, uma semana antes de seu casamento com a jovem Maria Dorotéia Joaquina de
Seixas, a Marília. A prisão aconteceu em 1789, há exatos 220 anos portanto ! Uma data a ser lembrada, por sua significação para o magnífico episódio da Inconfidência Mineira.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

TECENDO O MANTO SEM DESVENDAR A TRAMA

Em O Manto de Penélope,o historiador e sociólogo João Pinto Furtado, ex-professor da Universidade Federal de Ouro Preto, atualmente lecionando na UFMG, encara um desafio considerável. Quer revisar a Inconfidência Mineira para “contestar a visão mítica e heróica” de Tiradentes e seus companheiros. O título do livro faz alusão
à lenda grega segundo a qual Penélope tecia um manto, desmanchava os pontos e tornava a tecê-lo, na longa espera de que o marido, Ulisses, voltasse da Guerra de Tróia.

Na rica historiografia da Inconfidência, um dos mais importantes tópicos que precisa de urgente revisão é a morte de Cláudio Manuel da Costa. A versão oficial foi a farsa do “suicídio”, sob suspeita para vários autores, inclusive contemporâneos, mas só recentemente desmontada, com a descoberta da identidade do legista que confessou ter falsificado o laudo. Furtado omite sua posição sobre a morte de Cláudio, repetindo apenas que o inconfidente “teria cometido suicídio (ou sido assassinado)”.

O livro, que não se propõe a servir de guia para iniciantes no assunto, alterna momentos sérios com outros nem tanto. Exemplo dos primeiros são as contestações à Devassa da Devassa, obra do endeusado brasilianista Kenneth Maxwell (sobre quem um historiador especializado chegou a duvidar que tenha ao menos lido os autos do processo dos inconfidentes).Furtado aponta equívocos graves de Maxwell, como a afirmação simplista de que a Inconfidência foi um movimento de “magnatas endividados”.

Outro aspecto positivo: Furtado organizou em tabelas e quadros, informações dos Autos de Devassa sobre atividades econômicas, bens e patrimônio de vários inconfidentes, facilitando assim a visualização desses dados.

Entre as passagens despropositadas e fora de contexto, destaca-se quase uma página, como preâmbulo a comentários sobre as roupas seqüestradas aos inconfidentes, comentando regras de moda atual: tecidos, cores de ternos e gravatas! Com isso, a bibliografia, à qual faltam autores importantes sobre a Inconfidência, como Adelto Gonçalves, José Crux Rodrigues Vieira ou Ronald Polito, abriga (pasmem !) o título Chic homem, sem nada a ver com o tema central.

Riscos e generalizações

Falando em tema central, algumas das principais questões sobre as quais Furtado pretende urdir sua trama referem-se à unidade do movimento; ao seu caráter revolucionário e alcance; e à atuação de Tiradentes.

O autor arrisca, porém, a credibilidade de sua pesquisa e a isenção de suas intenções ao pinçar episódios que o levam a destacar que diversos inconfidentes “foram acusados” ou sobre eles “pesavam suspeitas” de comportamento pouco ético.

Rastreando os treze anos em que Tiradentes serviu à milícia da Capitania das Minas, o autor só encontrou o fato de que o alferes “sofrera queixas” de abuso de autoridade por parte do também inconfidente Domingos Vidal de Barbosa Lage, erroneamente identificado como padre,quando na verdade era médico.

Em uma generalização que em nada serve à História, Furtado chega ao primor de afirmar que, se nas Minas prevaleciam ambições e prepotências, “muitos inconfidentes”, por ocuparem posições de destaque na Capitania, também tinham essas características !

A Inconfidência Mineira de 1789 e suas personagens permanecem envoltas em mistérios e vítimas de toda sorte de interpretações equivocadas (involuntárias ou de má-fé...). O episódio mais heróico de nossa História ainda é, mais de duzentos anos depois, um rico território às espera de autores capazes de compreendê-lo em sua grandeza,o que este livro parece não ter conseguido. O desvendamento da meada que Tiradentes prometeu tecer e que não seria desmanchada nem em cem anos, de fato ainda não ocorreu.

O Manto de Penélope, de João Pinto Furtado. Companhia das Letras, 528 pág., R$ 39.

(*) Sergio Amaral Silva (samaralsp@ibest.com.br) é jornalista, ganhador em 2002 do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, categoria Literatura, além de pesquisador da Inconfidência Mineira.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O PROFETA CERTO EM CONGONHAS

Em matéria publicada no jornal ESTADO DE MINAS sob o título "Os profetas que faltam em Congonhas", um sacerdote propunha a substituição de Baruc por Miquéias no magnífico conjunto esculpido pelo mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, no adro do santuário de Congonhas do Campo.

A propósito, julgo oportuno contribuir com a informação, pouco conhecida, do motivo da escolha do profeta Baruc entre os doze que compõem a obra-prima da Basílica de Bom Jesus de Matosinhos Ao retratar, na pedra-sabão, doze dos inconfidentes mineiros como profetas, o mestre Lisboa fez questão de apôr sua assinatura á genial obra, para que, no futuro, não pairasse dúvida quanto à sua existência (infelizmente, ainda contestada...) e autoria. Assim, selecionou profetas com as seguintes iniciais nos nomes:



A, de Abdias
E, de Ezequiel
I, de Isaías
J, de Jeremias
A, de Amós
D, de Daniel
I, de Jonas e Joel
N, de Naum
H., de Habacuc
O, de Oséias


Os dois profetas na mesma letra (I) assinalam a vogal tônica, sendo que em latim, língua básica da liturgia católica, o I e o J têm o mesmo valor fonético. Basta lembrar da inscrição “INRI” na cruz de Cristo, iniciais de “Iesus Nazarenus Rex Iudeorum”, significando “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”

Nota-se que, para completar o acróstico, faltava o L. Como não existisse profeta com essa inicial, o mestre Lisboa optou por Baruc, cujo nome em hebraico significa “louvado”. Isso justifica a presença de Baruc, e não de Miquéias ou qualquer outro, entre os profetas de Congonhas do Campo.

Segundo a Bíblia, Baruc, filho de Nerias, era discípulo e secretário de Jeremias. Esperava a glória de Israel e sua principal oração era a dos exilados: ”Assim diz o Senhor: abaixai o vosso ombro e o vosso pescoço e servi ao rei da Babilônia; estareis de assento na terra, que eu dei a vossos pais. Se porém não ouvirdes a voz do Senhor vosso Deus, para vos sujeitardes ao rei da Babilônia, eu vos farei sair das cidades de Judá para fora de Jerusalém. Tirarei de vós toda voz de regozijo, e voz de alegria, e voz de esposo e voz de esposa, e ficará a terra sem rasto de quem a habitasse”.A partir dessa alegoria do exílio, o Aleijadinho escolheu representar em Baruc as feições de seu amigo, o inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, afastado da noiva, Maria Dorotéia, a Marília, pela prisão, poucos dias antes do casamento, e pela sentença que o condenou ao degredo em Moçambique (na prática, perpétuo, pois uma vez vencido o prazo de dez anos, o poeta, assim como outros inconfidentes, foi impedido de voltar ao Brasil).

Na cartela que Baruc segura na mão direita, está gravado o seguinte texto, tirado do capítulo II de seu livro: “Adventum Christi in carne postremaque mundi, tempora praedico, praemoneoque pios.” Ou seja: “Eu predigo a vinda de Cristo na carne e os últimos tempos do mundo, e previno os piedosos”.

Explicada a escolha, fica claro que argumentar pela troca de qualquer profeta no conjunto de Congonhas do Campo, além de um disparate em termos artísticos, equivale a questionar o perfeito e justo equilíbrio perseguido e alcançado pelo Aleijadinho em sua obra-prima, ameaçando atentar também contra sua rica simbologia histórica.


Sergio Amaral Silva

terça-feira, 29 de abril de 2008

VOTE NO ALEIJADINHO+ BIBLIOGRAFIA SOBRE ELE.

Está aberta na Internet desde 21 de abril de 2008 a votação que escolherá os 100 nomes que mais influíram na cultura latino-americana. O Brasil terá direito a 14 na lista final, mas nesta fase cada votante só pode indicar um. Eu sugiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho... Preencha o formulário (é bem simples) e vote em http://www.cac-acc.org/

Ajude a divulgar esta iniciativa. Copie e cole o texto acima e repasse aos seus amigos !

Eis alguns títulos sobre o genial artista que tive oportunidade de pesquisar, inclusive alguns de ficção:

ANDRADE, Mário de – O Aleijadinho e Álvares de Azevedo – RA Editora, 1935

BARBOSA, Waldemar de Almeida – O Aleijadinho de Vila Rica – Itatiaia/Edusp, 1988

BARROSO FILHO, Francisco – Museu Aleijadinho (catálogo) – s/d

BRETAS, Rodrigo José Ferreira – Passos da Paixão – O Aleijadinho – Alumbramento, 1989

COELHO, Ronaldo Simões – Pérola torta – Dimensão, 1995

DONATO, Hernâni – O rio do tempo – Círculo do Livro – s/d

FREUDENFELD, A.D. – O Aleijadinho – Edições Melhoramentos, s/d

GONZAGA, Tomás Antônio – Confidências de um Inconfidente – Psicografado por Marilusa Moreira Vasconcellos – Radhu, 1980

JARDIM, Márcio – O Aleijadinho – uma síntese histórica – Stellarum, 1995

JARDIM, Márcio – Aleijadinho: catálogo geral da obra, RTKF, 2007

JORGE, Fernando – O Aleijadinho – Difel, 1971

KELLY, Celso – O Profeta Aleijadinho – Livraria São José, 1964

LEONARDOS, Stella – Romanceiro do Aleijadinho – Itatiaia, 1984

MACEDO, Sérgio D.T. – Tiradentes e o Aleijadinho – Record, 1964

MACHADO FILHO, Aires da Mata – O Enigma do Aleijadinho e outros estudos mineiros – José Olympio, 1975

MOOG, Vianna – O Aleijadinho – (Condensado de um artigo), in Seleções do Reader’s Digest – novembro de 1949.

MORAES, Geraldo Dutra de – O Aleijadinho de Vila Rica – Conselho Regional de Farmácia de S.Paulo, 1977

MÜLLER, Leandro – O código Aleijadinho – Espaço e Tempo, 2006

OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de – Aleijadinho - Passos e Profetas – Itatiaia/Edusp, 1984

PIRES, Heliodoro – Mestre Aleijadinho - Vida e Obra de Antônio Francisco Lisboa - Livraria São José, 1961

REZENDE, Angélica de – Lembrando Ouro Preto e Aleijadinho - Ed. da autora, 1965

SABOYA, Jackson – O Vale dos Bruxos – Nova Era, 1996

VASCONCELLOS, Marilei Moreira – Aleijadinho (iconografia maçônica) – Atlan, 1988

VASCONCELLOS, Sylvio de – Vida e Obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho – Cia. Editora Nacional, 1979



Nota: Além destes de identificação mais imediata, há inúmeros capítulos e referências sobre o Aleijadinho em livros e periódicos sobre arquitetura colonial, barroco, história da arte brasileira, Ouro Preto e mesmo a Inconfidência Mineira.

Por exemplo, em seu ótimo estudo “Tiradentes: A Inconfidência diante da História”, (edição do autor, 1993), José Crux Rodrigues Vieira dedica 10 páginas ao Aleijadinho, enfocando-o do ponto de vista de sua ligação com o grupo inconfidente.

Na revista “Barroco” nº 2 (UFMG, 1970), o pesquisador Hélio Gravatá, em 118 páginas, lista e comenta 1.140 fontes de referência bibliográfica sobre o Aleijadinho, incluindo livros, artigos de periódicos, etc.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

KOTHE FAZ LEITOR ENTRAR PELOS CÂNONES

Começo dizendo que não li “O Cânone Imperial”, de Flávio Kothe, editado pela Universidade de Brasília. Bastou-me o anterior, “O Cânone Colonial”, que saiu pela mesma editora, ratificando que a UnB presta, com tais publicações, um desserviço à cultura e ao bom gosto literário brasileiros.

Constato, porém, pela leitura da crítica “O mapa da tradição”, do professor Fábio de Souza Andrade no caderno “Mais” da Folha de S.Paulo de 22 de abril de 2001, que Kothe insiste em perpetrar barbarismos como os que tornam seu livro anterior simplesmente risível. Possuidor de tantos títulos acadêmicos, o escritor da UnB persiste em pretender reduzir, de forma canhestra, valendo-se de uma retórica maniqueísta e empobrecida, grandes nomes de nossa história e literatura. No “Cânone Colonial”, era o poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, graças a uma interpretação desastrada de um de seus textos, questionado em sua coerência política e rotulado de escravocrata. No “Imperial”, Machado de Assis é diagnosticado como limitado, frívolo e racista.

Surpreendentemente, Flávio Kothe continua impune e parece não ter aprendido nos últimos anos: seu estilo permanece patético (“regressivo, bombástico e trocadilhesco”, segundo Fábio Andrade), como já revelavam os títulos dos capítulos de “O Cânone Colonial”. Nesse sentido, a amostra citada pelo professor Andrade é de fato lapidar, “fala por si e resume o livro”. Vejamos: “O enigma da capeta Capitu é o enigma do capítulo, mas a capitulação em seus capítulos precisa ser recapitulada para ver a cabeça que está por trás disso”. Dispensa mais comentários.